Xinxim e acarajé, feijoada, café, cerveja, feijão e arroz, milho, peixe e outros alimentos e bebidas desfilaram pelo Sambódromo do Rio de Janeiro desde a sua inauguração, levados por felizes, ágeis e hábeis sambistas das escolas de samba e com carros alegóricos extremamente lindos e luxuosos, além das fantasias dos próprios componentes das escolas. Tudo para contar a história na avenida, o enredo alimentado pelo samba-enredo cantado por todos os componentes. O sambódromo da Sapucaí fez 40 anos neste Carnaval de 2024 com lindos e inesquecíveis desfiles.
Até os desfiles de 2023, a Beija-Flor era a principal vitoriosa dos Carnaval na Marquês de Sapucaí, com nove títulos, seguido da tradicional Estação Primeira de Mangueira, com oito. Aliás, a Mangueira foi a primeira campeã do sambódromo, quando da inauguração, no Carnaval de 1984, ano que teve duas campeãs e uma supercampeã. A Portela venceu no primeiro dia de desfile e a Mangueira no segundo. E disputaram o título de supercampeã, vencido pela Mangueira. O enredo da escola verde e rosa daquele ano foi "Yes, nós temos Braguinha" e o carnavalesco foi Max Lopes. O intérprete do samba-enredo foi Jamelão. Ele teve 14 títulos de campeão do carnaval carioca, todos com a Mangueira e foi a voz da escola nos desfiles desde 1952 até 2006 (ele faleceu em 2008).
"Tem xinxim e acarajé/ Tamborim e samba no pé" era o refrão do samba-enredo que deu mais um título para a Mangueira, em 1986 (ganhou também em 87 e a escola foi a primeira bicampeã da Sapucaí), com o enredo "Caymmi mostra ao mundo o que a Bahia e a Mangueira têm", cantado com a inconfundível voz de Jamelão. Outro destaque entre os intérpretes, Quinho morreu dia 3 de janeiro de 2024 aos 66 anos e tem históricos sambas-enredo na Sapucaí. "Peguei um ita no norte", que deu o título ao Salgueiro em 1993, é sem dúvida o mais conhecido. "Explode coração na maior felicidade/ É lindo o meu Salgueiro/ Contagiando, sacudindo esta cidade" é um dos refrãos mais cantados até hoje. Também Quinho foi o intérprete, antes em 1989 do samba-enredo de Festa Profana, da União da Ilha, a estreia da escola na Sapucaí. Ninguém esquece os versos "vou tomar um porre de felicidade/ vou sacudir, eu vou zoar toda cidade". Em 1991, o enredo da União da Ilha era "De bar em bar - Didi um poeta" e o refrão do samba-enredo: "Hoje eu vou tomar um porre. Não me socorre que eu tô feliz. Nessa eu vou de bar em bar. Beber a vida que eu sempre quis". Em 1992, o café estava presente no enredo do Salgueiro: "O negro que virou ouro nas terras do Salgueiro".
No desfile de 2001, a Imperatriz Leopoldinense foi campeã cantando a cana, a pinga, a cachaça. O enredo foi: "Cana-caiana, cana roxa, cana fita, cana preta, amarela, pernambuco... quero vê desce o suco na pancada do ganzá". Já em 2013, a Vila Isabel também foi campeã com enredo falando de alimentação e fome: "A Vila canta o Brasil, celeiro do mundo - "Água no feijão que chegou mais um".
O enredo "Liberdade, realidade ou ilusão" da Mangueira, em 1988, é um dos destaques. O samba-enredo começava assim: "Será que já raiou a liberdade/ Ou se foi tudo ilusão/ Será, oh, será/ Que a Lei Áurea tão sonhada/ Há tanto tempo assinada/ Não foi o fim da escravidão" e tinha como refrão: "O negro samba/ O negro joga a capoeira/ Ele é o rei na verde e rosa da Mangueira".
A Estácio de Sá, em 1987, desfilou com um sambão que marcou a Sapucaí no enredo "Tititi do sapoti", que tinha o refrão: "Que tititi é esse/ Que vem da Sapucaí/ Tá que tá danado/ Tá cheirando a sapoti". O enredo da Mangueira em 1994 homenageou os Doces Bárbaros com o enredo "Atrás da Verde e Rosa Só não Vai quem já Morreu", e o samba-enredo tinha o refrão: "Me leva que eu vou, sonho meu/ Atrás da verde-e-rosa só não vai quem já morreu". A Vila Isabel apresentou em 1988 o antológico enredo "Kizomba, a Festa de uma Raça". Já a Mocidade Independente de Padre Miguel levantou o público, em 1985, com "Ziriguidum 2001", enquanto a Imperatriz Leopoldinense chacoalhou a Sapucaí, em 1989, com o enredo "Liberdade, Liberdade, Abra as Asas Sobre Nós".
Joaosinho Trinta, um ícone entre os carnavalescos brasileiros falecido em 2011, foi responsável por um momento memorável na Sapucaí. Em 1989, o enredo da Beija-Flor tinha no abre-alas a imagem do Cristo Redentor como mendigo, mas uma ação na Justiça da Igreja Católica impediu que a imagem fosse mostrada dentro do enredo "Ratos e urubus, larguem minha fantasia". Então, o abre-alas foi coberto por sacos de lixo plásticos pretos e entrou na avenida com a frase: "Mesmo proibido, olhai por nós". A escola ficou em segundo lugar, perdendo para a Imperatriz Leopoldinense. Joãosinho Trinta só teve um título na Sapucaí, em 1997 com a Viradouro, mas sua carreira vencedora, iniciada no Salgueiro deu a ele os títulos de 1974 e 1975 e com a Beija-Flor em 1976, 1977, 1978, 1980 e 1983.
Em 2015, o Salgueiro levou à avenida o enredo "Do Fundo do Quintal, saberes e sabores na Sapucaí…". Como definiu a própria escola, foi "uma viagem através dos sabores que Minas Gerais oferece e resguarda nos saberes que cada prato típico preserva através do tempo".
Sapucaí em 1984
A avenida Marquês de Sapucaí se tornou o sambódromo do Rio de Janeiro e o mais famoso do Brasil e do mundo a partir de 1983, no governo de Leonel Brizola. A obra foi realizada em 120 dias com a instalação de arquibancadas. Ficou pronta para o Carnaval de 1984 e recebeu os primeiros desfiles no dia 2 de março. O grupo principal das escolas de samba, então chamado de Grupo 1-A desfilou no domingo, dia 4 e na segunda-feira, dia 5, a partir das 19h. A Portela foi a campeã dos desfiles de domingo e a Mangueira do realizado na segunda-feira. As duas disputaram o Supercampeonato, dia 10 de março, na mesma Sapucaí, então chamada de "Avenida dos Desfiles" com as escolas também classificadas. Deste desfile participaram as escolas: Acadêmicos de Santa Cruz, Unidos do Cabuçu, Flor da Mina do Andaraí, Canarinhos das Laranjeiras, Caprichosos de Pilares, Beija-Flor de Nilópolis, Império Serrano, Mocidade Independente de Padre Miguel, Portela e Estação Primeira de Mangueira.
Foi em 1987 que o sambódromo recebeu o nome de Passarela Professor Darcy Ribeiro, homenagem em vida ao professor, historiador e antropólogo, que faleceu em 1997. Ele, ao lado do então governador Leonel Brizola e o arquiteto Oscar Niemeyer foram os idealizadores do sambódromo. O projeto tem o desenho de Niemeyer, incluindo a praça da Apoteose, com traços em curvas para representar os movimentos dos passistas.
Títulos na Sapucaí
A Beija-Flor de Nilópolis foi a maior vencedora dos desfiles na Sapucaí. Ganhou nove títulos, seguida da Mangueira com oito, Imperatriz com sete, Mocidade Independente de Padre Miguel, com cinco, Unidos da Tijuca e Vila Isabel, com três cada, Acadêmicos do Salgueiro e Viradouro, com dois e Estácio de Sá e Grande Rio, com um título cada.
A Beija Flor ganhou em 1998, 2003, 2004, 2005, 2007, 2008, 2011, 2015 e 2018
A Mangueira foi campeã em 1984, 1986, 1987, 1998, 2002, 2016 e 2019
A Imperatriz ganhou em 1989, 1994, 1995, 1999, 2000, 2001 e 2023
Mocidade Independente de Padre Miguel foi campeã em 1985, 1990, 1991, 1996 e 2017
Unidos da Tijuca sagrou-se campeã em 2010, 2012 e 2014
Vila Isabel foi campeã em 1988, 2006 e 2013
Viradouro sagrou-se campeã em 1997, 2020 e 2024
Acadêmicos do Salgueiro ganhou em 1993 e 2009
Portela foi campeã em 1984 e 2017
Estácio de Sá foi campeã em 1992
Acadêmicos do Grande Rio conquistou o título em 2022
Carnavalescos vencedores
A carnavalesca Rosa Magalhães foi a maior vencedora nos desfiles da Sapucaí até 2023. Ela obteve seis títulos, cinco com a Imperatriz Leopoldinense (94, 95, 99, 2000 e 2001) e um com a Vila Isabel (2013). Renato Lage e Alexandre Louzada tiveram quatro cada, Paulo Barros foi campeão três vezes, o mesmo de Leandro Vieira, enquanto Julio Mattos e Tarcísio Zanon tiveram dois. Laíla (Luiz Fernando Ribeiro do Carmo) teve oito título, mas integrando as chamadas comissões de Carnaval, especificamente na Beija-Flor. Outro campeão em comissões de Carnaval foi Cid Carvalho, com cinco títulos. (Val Rocha, da Redação)